Acho que sempre fui rockeira.
Sobre alguém que teve sua base musical construída por Raul Seixas e ainda assim se permitiu acreditar que não era rockeira.
No último final de semana assisti um filme sobre a banda The Doors e fiquei impressionada ao descobrir que conhecia todas as músicas que tocaram. No decorrer da semana segui ouvindo a banda e descobri que conhecia ainda mais músicas e isso me deixou bastante intrigada, porque se eu conheço as músicas é porque em algum período da minha vida devo ter escutado com uma certa frequência, não é mesmo?
Hoje estava em uma playlist pronta do spotify do “porque você ouviu The Doors” e começou a tocar várias músicas de outras bandas e cantores da época (década de 1960/70) e eu conhecia várias e isso me pegou muito. Quer dizer que em algum momento da minha vida, além de ter ouvido muito The Doors (sem saber que banda era) eu também ouvi várias outras bandas e cantores da época sem saber o que estava ouvindo.
Isso despertou em mim alguns pensamentos… o primeiro é de que eu realmente passei grande parte da vida ouvindo e consumindo músicas sem fazer ideia de quem eram os cantores, o que as letras significavam ou qualquer coisa do tipo. Só ouvia. O outro é de que eu não consigo me lembrar de qual foi esse período da minha vida.
Consigo lembrar que na minha infância eu gostava de Sandy e Junior, aí eu tive a fase RBD, depois virei Emo, aí mergulhei no universo do pop e fui abduzida por Lady Gaga e Beyoncé, juntamente com funk brasileiro e é isso. Ou seja: qual foi o período de tempo em que eu ouvi esse tipo específico de rock com frequência o bastante pra saber as músicas?
Depois de muito refletir, lembrei que tive uma época Beatles. E que talvez tenha ouvido todas essas outras coisas por conta dos Beatles. Mas, mais do que isso, eu percebi que eu realmente, tipo, realmente, gosto da sonoridade dessas canções. São músicas que me dão vontade de dançar, cantar, fechar os olhos e só ser e estar e isso é muito gostoso. De um jeito mais calmo e tranquilo do que as músicas pop fazem. Um jeito menos espalhafatoso. Mais “no pequeno”. Inclusive, talvez essa também tenha sido a época em que me apaixonei por bossa nova e MPB, por esse ritmo pequeno e doce.
Tudo isso é muito curioso porque nos últimos anos eu tenho me sentido de certa forma desconectada de música, quase como se não gostasse de música. Tirando Beyoncé, Gaga e Queen, tenho ouvido pouquíssimas coisas e sentido cada vez menos vontade de conhecer e entrar em contato com a música.
Sou apaixonada pelo silêncio e não entendo quem trabalha, estuda, lê, faz tudo ouvindo música. Pra mim é algo que é bom só quando estou num trabalho repetitivo, que não preciso pensar muito. Porque música me faz viajar.
Eu acho que, no fim das contas, o Rock não está tão distante assim do Pop. Veja pelo show da Madonna, por exemplo. Tivemos alguns números de rock, mas o espetáculo do pop se manteve. Pois bem: quem já viu um show de rock sabe que ele também é feito por espetáculo, que a performance do vocalista é a alma da coisa. Eu gosto do espetáculo, no fim das contas. Da teatralidade, os figurinos, as maquiagens… Talvez por isso o Glam Rock do David Bowie, por exemplo, seja um dos estilos que mais me chame a atenção.
E tem mais um ponto em tudo isso, que muitas vezes dizem que eu “forço”, mas que não consigo “desver” a vida sob esse viés, que é: rock sempre foi um ritmo “de menino” e pop “de menina” e eu provavelmente me afastei do rock quando estava no auge da fase de ser aceita no mundo enquanto uma mulher que performa o feminino, logo, deveria gostar mais de coisas de menina do que de menino. Talvez uma leitura muito “seca” da realidade, que é parte do jeito neurodivergente que meu cérebro vive a vida.
E aí vem o ponto desse texto: eu falo pouco sobre música. Eu escuto menos música que a maioria das pessoas. Mas eu gosto mais ou menos das mesmas coisas desde sempre e eu sei mais do que acho que sei sobre essas coisas que vivo escutando sempre. Não é todo mundo que escuta o mesmo cd por um mês inteiro e vai pesquisar o pano de fundo de cada uma das músicas, pra cantar com mais domínio performático. A maioria das pessoas apenas escuta, no máximo dá uma choradinha, se identifica com o eu lírico e bola pra frente. Minha conexão acaba sendo sempre profunda, indo à fundo na vida da banda, conhecendo um pouco melhor quem canta e porque canta e a identificação raramente fica só na parte da música.
Com o Jim Morrinson mesmo… eu acho que sou maluca que nem ele, no sentido de ser apaixonada pela possibilidade do fim, que é nosso único verdadeiro amigo, por não acreditar muito num grande futuro ordenado e sim nas loucuras do agora, por ser ferrenhamente apaixonada e cheia de vida para oferecer àqueles que amo, por achar que é muito difícil enfrentar a realidade sem o auxílio de substâncias psicoativas e assim vai…
Não acho que esse texto faça um sentido ou tenha um objetivo prático. Não tô afim de encher ele de imagens para ficar mais “palatável”. Não estou afim de me tornar famosa e conhecida por ter esse espaço aqui. Tô afim de reconquistar minha conexão com a escrita e se tem uma coisa que eu sempre gostei sobre sentar e escrever é justamente que nem sempre precisa fazer sentido, como hoje, como agora.